Allen. Benigni. A ocasião e o ladrão. Uma entrevista a um ilustre desconhecido. Penélope. Amor, traição. Baldwin.
Na sequência de Midnight in Paris, o anterior filme do realizador, Woody Allen traz-nos mais uma história passada numa bonita capital europeia.
Desta vez, conta-nos quatro histórias, mais ou menos relacionadas, na capital italiana.
John (Baldwin), arquitecto, está de visita a Roma, cidade onde viveu na sua juventude. Um dia, passeando pelo seu antigo bairro, encontra o jovem Jack (Eisenberg), futuro arquitecto, fã de John. Imediatamente convidado para conhecer a sua casa e namorada Sally (Gerwig), John testemunha a paixão crescente de Jack por Monica (Page), amiga de Sally e que está, igualmente, de visita a Roma depois de diversos infortúnios pessoais.
Simultaneamente, Jerry (Allen), ex-director de ópera, também se desloca, com a sua esposa (Davis) para Roma, a fim de conhecer Michelangelo (Parenti), noivo da sua filha Hayley (Pill). Contudo, após ouvir o pai de Michelangelo, Giancarlo (Armiliato), responsável por uma agência funerária, cantar no duche, fica fascinado com os dotes musicais deste, levando a cabo uma pequena odisseia para o convencer a entrar no mundo da Ópera, convencido do enorme talento de Giancarlo.
Enquanto tudo isto acontece, o vulgar chefe de família Leopoldo Pisanello (Benigni), com poucos motivos de interesse no seu quotidiano, um dia acorda como um autêntico ídolo das massas, fazendo as delícias dos paparazzi locais com a sua absoluta… vulgaridade, questionando toda e qualquer coisa da monótona vida de Leopoldo. Sem entender absolutamente nada do que se passa, após algum tempo, contudo, apercebe-se verdadeiramente do real preço da fama e ao que isso conduz na vida de cada um.
Por último, temos a história do jovem casal Antonio e Milly, (Tiberi e Mastronardi) um provinciano esperançoso em impressionar os seus ricos familiares com a sua encantadora esposa, com o intuito de melhorar a sua vida profissional. No entanto, recém-chegados a Roma, o casal enfrenta diversos contratempos, desde autênticas confusões nas belas ruas de Roma, passando pelo encontro com a explosiva Anna (Cruz), até ao cortejo do lendário actor de cinema local Luca Salta (Albanese).
To Rome With Love não é um filme extraordinário, ponto prévio.
A Jesse Eisenberg falta um certo carisma, neste caso, para ombrear com alguns grandes desempenhos neste filme (contrariamente ao desempenho em The Social Network), sendo que a química com Ellen Page e Greta Gerwig, que cumprem bem os seus papéis, está dentro do razoável. O casal Antonio e Milly estão muito bem e merecem uma referência, com momentos extremamente bem conseguidos, quer nas ruas de Roma, quer com as respectivas… aventuras exteriores. Uma menção positiva merece também todo o restante casting italiano, de onde se destaca grande parte do filme falado em italiano. Fantásticos estão Roberto Benigni, Alec Baldwin e Penélope Cruz, com desempenhos extremamente bem conseguidos, como o sensaborão Leopoldo Pisanello, o incisivo John ou a provocante Anna. Woody Allen, esse, continua igual a si mesmo: assertivo, teimoso, real. Uma menção honrosa merece, também, todo o casting italiano, sobretudo o sonoro Giancarlo.
Allen consegue retratar, com fidelidade, algumas das complexas relações humanas, nomeadamente a futilidade, rapidez e volatilidade da fama ou a traição e o desejo sexual, com o seu característico toque de humor, sendo impossível deixar de realçar algumas cenas hilariantes, como as entrevistas a Leopoldo Pisanello ou o ladrão perto do final do filme.
As paisagens, essas, na devida proporção, fazem lembrar bastante algumas das vistas em Midnight In Paris, bem conseguidas e bastante representativas da beleza da cidade.
Seria de esperar que, com as diversas sub-histórias presentes, se perdesse o fio condutor da história principal mas são, precisamente, as sub-histórias em conjunto que constroem a história principal, muito por obra do talentoso casting escolhido para o efeito.
Nem tudo é, contudo, positivo. A quantidade de sub-histórias traduz variedade na película, é certo, mas a pouca inter-relação das narrativas e personagens acaba por transmitir uma sensação agri-doce no final, algo incompleto; não que seja uma má conclusão, mas de Woody Allen, espera-se, sempre, uma surpresa, uma punch line, algo de diferente (como no grande Match Point), sendo que em To Rome With Love tal não se verifica, deixando o final um pouco a desejar.
Repito, To Rome With Love não é um mau filme. Simplesmente para o realizador em questão esperam-se, sempre, grandes obras, e este filme, apesar de não ser um dos seus melhores, para a maioria dos realizadores seria bem acima da média. Pode não estar, para citar exemplos mais recentes, ao nível do excelente Match Point, mas To Rome With Love consegue o seu objectivo: entreter o espectador, com laivos de realidade e humor (característicos), mas fundamentalmente com um toque (bastante) acentuado de ironia em relação à actual sociedade.
Realização – Woody Allen
Casting – Alec Baldwin
Ellen Page
Jesse Eisenberg
Penélope Cruz
Roberto Benigni
Woody Allen
Género – Comédia
Duração – 105 min
Termina, assim, o primeiro TAKE, deixando entretanto uma outra sugestão relativamente recente de Woody Allen, para mim uma das melhores obras do realizador, e outra recomendação, completamente diferente, mas actualmente uma das melhores opções do género.
Até para a semana,
Rui
Match Point
ParaNorman
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